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sexta-feira, agosto 24, 2012

Um amor maior ...



Curioso como temos o hábito de associar a palavra amor a relações específicas.
Amor familiar (pais, filhos, irmãos, parentes próximos), amor romântico (parceiros), amor fraternal (amigos) descrevem as relações que mais usualmente são associadas ao sentimento.
Os gregos oferecem quatro palavras com diferentes significados para o amor: Ágape, Eros, Philia e Storge.
Ágape é o amor incondicional ou o “verdadeiro” amor.
Eros é o amor passional, a paixão.
Philia é o amor virtuoso, a amizade
Storge é a afeição natural, o gostar de alguém.
Muitos autores se limitam a considerar que apenas os três primeiros termos se referem ao amor.
Uma certa hierarquia está implícita nessa classificação, um gradiente de intensidade e profundidade, começando pelo Ágape – o amor absoluto (intenso, profundo e eterno), passando por Eros (intenso e profundo, eventualmente fugaz), Philia (menos intenso, eventualmente profundo, sujeito à reciprocidade) e terminando com Storge (suave e volúvel).
Ágape é considerado a forma mais nobre de amor.  Os cristãos se apropriaram da palavra para descrever o amor incondicional de Deus.  Talvez o único exemplo humano passível de corresponder a essa descrição seja o amor da mãe pelo bebê.
Eros, por sua fugacidade e pela comum associação com a sexualidade, costuma ter uma conotação negativa.
Philia, ao contrário, tem uma conotação positiva (dissociada do sexo) e pode ser considerado a melhor forma de amor possível entre os seres humanos “comuns”.
Storge não costuma merecer maiores atenções.
Eu, que tenho por hábito contrariar o senso comum, vejo grande valor na afeição natural (storge).
Creio que é nela que está a semente de um amor universal.
A afeição natural é espontânea.  Costuma nascer do reconhecimento de si mesmo no outro.
Isso não é ruim.  É um bom início.
Embora seja percebido como uma forma de sentimento egoísta, porque é auto-referenciado, o caminho para um amor universal e incondicional começa no amor próprio.
Acredito que não é possível amar o próximo sem se amar primeiro.
Além disso, reconhecer algo de nós no outro é reconhecer algo do outro em nós mesmos.
É aí que começa o amor universal, evoluindo até a consciência de que somos parte do universo e o universo é parte de nós.
Pode parecer um conceito estranho.
Mas acredito que cultivar o Storge, a afeição natural, pelas pessoas e por todas as outras manifestações da natureza, dedicando nossa atenção a descobrir-nos nelas, resulta numa gradual identificação com tudo aquilo que nos cerca.
Em algum momento, essa identificação irá resultar na transferência do amor próprio para todas as pessoas e coisas.
Não será  Ágape, Eros ou Philia. 
Esse novo sentimento transcenderá as três definições.

5 comentários:

Carla P.S. disse...

Gostei.

Anônimo disse...

Reconheci-me em ti 
na primeira vez que o vi
Misto de gentileza e intensidade
Rebeldia e sensibilidade

Solange Maia disse...

é... como na velha canção :
qualquer maneira de amor vale a pena...
qualquer maneira de amor vale amar...


jeito lindo de perceber a vida.
beijão, Flavio

Anônimo disse...

Acredito que amamos a nos mesmos atraves do outro... Eles nos ensinam ocaminho que volta a nossa intimidade e atraves do outro, nos amamos mais e mais... Bjss

Paulinha Costa disse...

Compartilhamos de pensamentos com o mesmo sentido. Gosto de você Flavito! Te ler é sempre muito bom! Beijos