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quinta-feira, junho 30, 2011

Relações de curta metragem

Época estranha essa, em que as pessoas não querem se comprometer para não perder a chance de um compromisso melhor.
Tudo é transitório, insatisfatório e, porque não dizer, ilusório.
"Eu sou livre, escolho o meu caminho ..." revela o comercial da Suzuki nesse exato momento na TV.
Compromisso significa a perda da liberdade dos apaixonados pela paixão, sempre pulando de uma para outra com rápidas escalas na frustração.
A pergunta chave é "o que é que tem aí para mim?".
Parece ruím, e talvez seja mesmo.  Mas não é diferente do que havia antes. 
Da mesma forma que nos dias de hoje as pessoas ficam presas num círculo vicioso de relações de curta duração, antes ficavam presas a casamentos infelizes e empregos entediantes.
Antes, não queríamos abrir mão das nossas conquistas ... agora, não suportamos abrir mão da liberdade de conquistar.
É o problema de buscar soluções onde elas não estão ...

Lady Di das Virtudes

Dionísia, uma descendente de avôs cafusos do interior da Bahia, mora desde pequena numa casa de construção simples, quase toda de alvenaria, no Vale das Virtudes, alí mesmo no Capão Redondo.
Mulher determinada, de poucas palavras e atitudes generosas, ganhou o apelido carinhoso de Lady Di pelo tanto que ajuda a comunidade.
Dionísia não era loira e linda como sua versão inglesa, mas também havia se casado com um príncipe, o Carlão dos Pipocos, que tinha recebido essa alcunha depois de haver sobrevivido a três balaços recebidos quando a polícia estourou sua primeira boca de fumo.
Carlão era magro, alto, cabelo farto e grosso sempe penteado para trás às custas de gel Bozzano.  Gostava de usar calças de linho branco e camisas de seda preta, sua marca registrada.
Quando perguntavam para Dionísia como é que ela tinha conquistado o melhor partido do bairro ela sorria de lado, entreabrindo os labios grossos, e dizia:
- Eu sei do que ele gosta ....
Essa era a grande virtude da Di, que sabia agradar com eficiência e sem exageros.
Por isso Carlão contribuia com gosto para suas obras sociais.  Ganhava o carinho da mulher e o reconhecimento da comunidade.
Carlão e Lady Di eram o casal Real da Vila das Virtudes.
E foi assim até que Carlão capotou com seu carro enquanto fugia da perseguição de policiais, na saida do Tunel Sebastião Camargo, em agosto de 97.
Faleceu no hospital, ninguém sabe dizer bem como e nem de quê. 
Di não se casou de novo.
- Não ponho ninguém na minha cama, no lugar do Carlão ... - ela afirma categórica.
Mas dizem as más línguas que não é só por solideriedade ao falecido que o Camilo Velho, herdeiro do posto do Carlão, visita a viuva toda semana para levar pessoalmente a contribuição para suas obras.
Embora ninguém aceite bem o Camilo como novo rei, naquele pedaço de terra, o destino foi generoso...
A Vila das Virtudes ainda tem sua Lady Di.

(as histórias que deveríamos contar...)

terça-feira, junho 28, 2011

Animais do frio

Alces, focas, renas, veados, ursos, lobos, raposas ... animais de clima frio...
Mas as atuais temperaturas só consegume despertar o arminho que existe em mim ... dá vontade de esperar até a primavera para fazer qualquer coisa mais divertida do que comer.

É como dizia meu avô:


Desde as eras mais antigas
O frio desperta as lombrigas
E remete a velhas cantigas
De amor por raparigas ...

domingo, junho 26, 2011

Lições do Príncipe de Exupéry

Mesmo sem nenhuma intenção de ser "miss", resolvi reler "O Pequeno Príncipe" (Antoine de Saint-Exupéry).
É mesmo um livro bacana, precursor dos manuais de auto-ajuda romanceados e pioneiro na preocupação com o meio-ambiente.
Algumas idéias surpreendem pela beleza da simplicidade, como a história das árvores que precisavam ser exterminadas (os baobás) para evitar a ruína do planeta do Príncipe, ou a do Rei que, para garantir a obediência, cuidava-se para dar ordens que fizessem sentido e ainda a do Acendedor de lampiões, sujeito a um regulamento imutável num mundo que já havia mudado.  Naturalistas e Gestores de empresa poderiam aprender alguns fundamentos importantes com essas parábolas.
As rápidas passagens do Vaidoso, do Bêbado, do Empresário e do Geógrafo são frutos, provavelmente , da impaciencia do autor com a obveidade da estupidez.
Mas é na famosa passagem da raposa que a história dá uma escorregada.  Numa sacada brilhante, a raposa explica ao Príncipe que o que torna sua flor importante é o tempo que dedicou a ela.  Mas, na sequencia, lhe dá seu atestado de morte: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Essa frase é uma das mais famosas do livro, talvez pela imagem lírica ou pela idéia sedutora.
Entretanto, reflete o que talvez seja o maior problema dos relacionamentos afetivos: a expectativa do "cativado" de que aquele que o cativa assuma a responsabilidade por sua felicidade.
Ainda que a passagem seguinte, da água do poço, seja lindíssima e o final do livro emocionante, fica difícil aceitar essa mensagem tão equivocada, transformada em verdade poética pelo contexto.
O Príncipe de Exupery nos cativou, mas não pode ser responsabilizado por nossa interpretação.
Que conste, a seu favor, haver colocado essas palavras na boca de uma raposa ...

terça-feira, junho 21, 2011

Diferencial e integral

Os engenheiros aprendem coisas esquisitas (eu sei, estive lá ...).
Cálculo diferencial e integral, limites e derivadas  são bons exemplos disso.
Os mortais comuns costumam se espantar com isso.
Já os engenheiros se espantam com a necessidade de se diferenciar, a falta de capacidade de se integrar, a dificuldade de enfrentar os limites e as derivações estranhas que cada um dos seres normais escolhe para sua vida.
A conclusão é que cada um equaciona sua vida como pode e não procura deduzir qual é a função de sua existência.

sábado, junho 18, 2011

Irritando-se

Gastei a maior grana com o psicanalista para descobrir que a irritação é um mecanismo para evitar que entremos em contato com o ódio.
Demorei para aceitar que na maioria das vezes em que estou irritado (para não dizer todas) é por que estou com ódio de mim.
As vezes porque estou me obrigando a fazer algo que não gostaria (me tiranizando), outras vezes porque não me sinto capaz de resolver um problema ... e assim vai.
Depois que fiquei consciente desse mecanismo, tenho mais dificuldade para colocar a culpa nos outros.  E não é fácil assumir a responsabilidade por todas as coisas que te afetam, acreditem.
Mas existe uma grande vantagem nisso.  Enquanto colocamos o problema "nos outros", há pouco que possamos fazer para resolvê-lo.   Já quando o problema é com você, a solução só depende de você ....

Sobre o fazer

Seríamos capazes de fazer muitas coisas se não tivéssemos tanto a fazer ...

quinta-feira, junho 16, 2011

Jogar conversa fora

Eu sinceramente invejo a capacidade que algumas pessoas tem de jogar conversa fora, como se a vida fosse infinita e não houvesse nada mais importante para fazer.
O único momento da minha vida de que me lembro haver sido capaz disso foi na adolescência, conversando com namoradas.  Era capaz de passar uma hora no telefone num dialogo do tipo "...desliga você ... ah, desliga você ... eu, não .. deliga você...".  Era a compulsão da conexão e, admito, não tinha repertório para coisa melhor.
Hoje sou impaciente com telefones e outras formas de conectividade não presencial. 
E, no corpo a corpo, prefiro o silêncio do que o papo-furado.  O silêncio aproxima e revela.  Falar à toa é uma defesa contra isso.
Para não ser mal entendido: não estou defendendo que todas as conversas precisam ser sérias e com "conteúdo".  Aliás, adoro falar bobagem.  Isso tem um sentido.  Diverte.  Apenas me aborrece o uso da palavra para preencher um espaço vazio que, pelo menos no meu caso, não existe.
Eu vivo com a sensação de que a vida é muito preciosa para ser jogada fora.
Mas não sei se isso é bom ou ruim.. É como sou.  Talvez intenso demais.

terça-feira, junho 14, 2011

O paradoxo do tamanho único

Enquanto nos EUA, o país da fartura, você encontra roupas com tamanhos fracionados e com comprimentos diversos (as calças tem numeração dupla, indicando a cintura e o comprimento), aqui no Brasil varonil a moda é o tamanho único (normalmente, pequeno).
Tadinhas das meninas.
A situação gerada pelo tamanho único é curiosamente paradoxal.
Quando pessoas de tamanhos diferentes usam uma roupa de tamanho único, o resultado é diferente para cada uma.  A mesma camiseta pode parecer uma camisola para uma garota de 1,50m e 42 quilos ou um top para uma mulher de 1,85 e 90 quilos.
Isto significa que a maneira mais econômica de gerar o efeito de exclusividade não é criar peças diferentes.  Mais fácil é optar pelo tamanho único.

segunda-feira, junho 13, 2011

Qualquer bobagem ...


Num exercício de curiosidade auto-dirigida, fiz uma varredura no Arguta buscando meus "pensamentos", frases que costumo postar quando estou com preguiça de desenvolver um texto maior.
Cheguei à conclusão de que não sou nenhum Platão, mas já dava para escrever um livro de auto-ajuda.
Compartilho com vocês ...


- “Não quero a posse ... prefiro o usufruto.”
- “É como no boxe: manter a "guarda" alta ajuda a amortecer os golpes mas impede que participemos da luta.”
- “A felicidade é feita de pequenas coisas ... e por grande pessoas.”
- “Perseguimos as gatas, comemos as galinhas mas gostamos mesmo é das cachorras ...”
- “A gente nunca sabe bem porque começa a amar alguém, mas quase sempre sabe porque deixa de amar ...”
- “Uma mulher separada e com filho(s) é um espírito livre.”
- “Somos mais rápidos interpretando um gesto como agressão do que como afeto.”
- “Descobrir a mentira alheia é fácil.  Difícil é descobrir quando mentimos para nós mesmos.”
- “Só o que construímos dentro de nós é verdadeiramente nosso.”
- “Cada vez que você força alguém a fazer uma escolha, perde um pouco dessa pessoa.”
- “Bom mesmo é quando a fome se junta com a vontade de comer !”
- “Pensando bem, é ótimo que parte da humanidade concorde em ser mulher ...”
“Paciência vem com o tempo.”
- “A vida é como um jogo de poquer. Quer que eu explique ? Então pague para ver ...”
- “Talvez você não possa mudar o que acontece num momento, mas pode mudar sua atitude e, com isso, gradativamente mudar o que virá a acontecer.”
- “O que são os fatos diante da força dos argumentos ?”

(ps - se alguém identificar algum desses pensamentos como sendo de outro autor, peço desculpas ... está cada vez mais difícil identificar os autores dos meus pensamentos ...)


sexta-feira, junho 10, 2011

Solteiros cobiçados

E o UOL está promovendo um concurso para eleição dos solteiros e solteiras mais cobiçados da internet, com o objetivo de ajudar a desencalhar uns tantos ...
Neste exato instante a garota do filme (na MGM) diz: "você acha que eu vendi minha alma para ser popular ?"
Nesse universo blogueiro, as vezes tenho a impressão de que existem apenas 3 grandes grupos.  Os que reclamam do que tem, os que reclamam da falta e os que querem mudar o mundo.
Os que aproveitam o que tem parecem ser uma minoria fugaz e episódica, sem muito tempo para postagens.
Mas, voltando ao ponto, eu acho dificil ser solteiro.  Gosto de companhia e, particularmente, de uma boa companhia feminina.  Já pensei seriamente em ser polígamo, mas não dou conta.  Tratar a mulher como ela merece é uma tarefa de tempo integral para alguém com o meu nível de competência.
Entre meus amigos e amigas que sofrem de solterice (sofrem porque preferiam não estar nessa situação) identifico dois sub-grupos: os tímidos e os exigentes. 
O primeiro grupo acha que não é suficientemente bom para merecer companhia.  O segundo acha que ninguém é suficientemente bom para ser sua companhia.  Na verdade, duas faces de um mesmo problema: medo da rejeição.
Quando posso, tento explicar que começar relacionamentos é muito simples.  Terminar é que é complicado.
Minha sugestão é ouvir as dicas de um bom amigo (a) do sexo oposto.
Pelo menos foi assim que aprendi. 
Já recebi alguns "não" como resposta.  Até agora, nenhum tapa na cara (lá vou eu dando idéias).
Nenhum "não" terrível tipo: " o quê ? tá lôco ? sai daqui seu nojento !".  Provavelmente porque não me interesso por mulheres que não gostem pelo menos um pouquinho de mim.  Sentido de auto-preservação, talvez ...
Descobri que nenhuma mulher se sente ofendida por ser desejada.  Parece óbvio, mas se os rapazes soubessem disso não seriam tão desastrados nas suas abordagens.  Ficariam bem mais tranquilos e seguros sabendo que, na pior das hipóteses, vão ouvir um "não" agradecido e, se reagirem com elegância, terão ganhado uma amiga.
Com os homens, meninas, não é muito diferente, com a vantagem (para vocês) de que dificilmente recusamos antes de experimentar.
Gostamos de admiração.  Somos incapazes de tratar mal uma mulher que nos admira.
Volto para a sugestão das dicas ... converse com seu melhor amigo, mas longe dos amigos dele ("pega mal" dar respostas sérias para esse tipo de assunto, principalmente entre os mais jovens).
Ah ... e tenha coragem de experimentar ... tudo nessa vida precisa de algum treino.

quarta-feira, junho 08, 2011

Singular diversidade

Tenho um curioso sentimento de fraternidade com relação às pessoas de um modo geral.  Uma sensação que, de certa forma, é traduzida pelo significado dado por Deepak Chopra ao cumprimento sul-asiático Namasté: "eu honro o espírito em você que também está em mim" (literalmente a palavra significa "curvo-me diante de você" ou "te reverencio").   Essa sensação resulta em uma confortável familiaridade e mais de uma me colocou em situações inusitadas quando unilateral.
Mas, ao mesmo tempo, sigo admirando a diversidade.  Todos somos tão iguais e tão diferentes...
Adoro navegar por grupos sociais heterogêneos e fico feliz quando encontro pessoas com maior liberdade de pensamento, com a coragem de ser e a generosidade de deixar que sejam.  Essas joias costumam ser leves e divertidas, passando longe da constrição imposta pelo dogmatismo social.
Essa singular diversidade é, para mim, a melhor atração da Terra.
Millôr Fernandes, o humorista, mantinha uma coluna entitulada "livre pensar é só pensar".  Em que se pese a notória rabujice do moço, seu descompromisso não deixa de ser uma referência atual (e possívelmente mais pura) do movimento livre-pensador que teve início no século XVIII.
Pensamento livre, de fato, não existe.  Mas a coragem de não se levar tão a sério faz algumas pessoas serem bem mais interessantes do que outras.




(foto: Kelvyn Evans)

sábado, junho 04, 2011

A palavra e os loucos

Profeta é aquele capaz de prever o futuro e/ou que fala por inspiração divina.
O instrumento do profeta é "a palavra".
Ontem estava explicando a uma amiga a minha interpretação pessoal da parábola de Adão e Eva.
Boa parte do conhecimento de um grande número de religiões é transmitido de geração para geração através de parábolas (histórias curtas com alguma lição de moral).
Parábolas são uma forma simples de explicar coisas complicadas a quem não tem repertório suficiente para compreender explicações mais rebuscadas.
Há quem as tome ao pé da letra.  No caso de Adão e Eva, é comum encontrar quem verdadeiramente acredite que foram os dois primeiros humanos a habitarem o universo (ou, pelo menos, a Terra).  Afinal, assim está escrito, e essa é "a palavra".
Honestamente, para mim não faz a menor diferença.  Mas vejo na história de Adão e Eva uma riqueza de possibilidades.  Ela instiga o pensar sobre a natureza do homem, da mulher, do conhecimento, do pecado, da culpa, do paraiso e do destino da humanidade.  Tudo isso, numa história curta e simples.  Verdadeira ou não, é deliciosa.
A história, minha interpretação, todas as profecias ... são apenas palavras.  E palavras não dão conta de explicar os mistérios da vida, nem os mais simples.
Imagine-se explicando para alguém que nunca teve sede, o que é ter sede.  Se tiver curiosidade, dê uma olhada na descrição da wikipedia.  Tente descrever o que sente quando está com sede.
Palavras são melhores para encantar do que para ensinar.
Para aprender é necessário também sentir, vivenciar de forma integral.
Foi assim que terminou minha conversa, após minha amiga haver se encantado pela interpretação da parábola.
Terminei alertando-a de que sei usar as palavras. E que sempre que ela estiver confiando apenas na sua razão poderá ser vítima de encantamentos.

(foto: do blog Change for Celta)

quarta-feira, junho 01, 2011

Greves e greves

Não gosto de greves.
Reconheço o direito de fazê-las, mas não acho que seja o melhor caminho para negociação.
Nos 3 anos em que participei da diretoria do Diretório Acadêmico nos tempos de faculdade, nunca promovemos greves.  Preferíamos outros argumentos de negociação (ok, faculdade de engenharia é um caso a parte .. rs).
Mas sou particularmente contrário às greves nos serviços públicos.  Para atingir o "empregador" (governo) a população é usada como "bucha de canhão" e termina pagando a conta.  Não me parece justo.
A idéia de greve não é nova.  A comédia grega Lisístrata, que já foi objeto de postagem aqui no Arguta em 2007 se baseia justamente nesse argumento de força.  Na história, as mulheres dos Atenienses fazem uma greve de sexo para convencer seus homens a abandonarem as guerras.   O motivo é justo e nenhum "inocente" sai prejudicado.  E os maridos sempre tinham a alternativa de procurar as mulheres Persas, sem medos (não resisti ao trocadilho histórico).