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sábado, junho 07, 2014

Vai ter que ter Copa !

Andam dizendo por aí que não vai ter copa ...
Bobagem ... isso é coisa dos coxinhas que querem atrapalhar a perpetuação do PT no poder.
Claro que vai ter.
Vai ter que ter ... tem muito dinheiro envolvido
Milhões, só em patrocínio ... Padrão Fifa.
Alguns são até engraçados
O curso de inglês oficial da seleção brasileira ...
Andei vendo umas entrevistas fiquei com a impressão de que  tem jogador que andou cabulando as aulas.
-               -  Eu tava na concentration, you know ... não deu pra ir ... not give to go ...
Tem também um isotônico, aquela bebida que os atletas tomam quando praticam esporte.
A maior prova de que futebol não é um esporte é essa...
O sujeito corre uma maratona e, quando acaba, toma um isotônico.
Participa de uma bateria de saltos triplos ... toma um isotônico
Mas aqui no Brasil, depois de um futebolzinho todo mundo vai para o bar tomar uma cerveja ...
Uma cerveja, não ... varias ... quantidades industriais, padrão Fifa.
E o pessoal vai fazendo aquela fila de garrafas ... porque será que brasileiro gosta tanto de fila ?  Fila, aqui, é sinônimo de qualidade.
     - O lugar é bom ... olha o tamanho da fila !  
É o padrão Fila.
Deve ser por isso que a copa tem tantos patrocinadores. 
Mas tem cerveja patrocinando também.  E tem banco.  Ai faz sentido.
O que não faz sentido é que a companhia aérea oficial da copa seja a Emirates.  Deveria ser a Copa Airlines, do Panamá.  Aí era o canal.

Vai ter que ter copa.
Mas o que eu acho curioso é esse negócio de “patrocinador oficial”.  Tem patrocinador não oficial ?  Patrocinio pirata ?
-              - Mamãe, mamãe ... me compra essa bola de futebol ?
-             - Não filhinho ... não é a oficial da copa .. é pirata ...
Quer dizer que se eu sair por ai dizendo que apoio a realização da copa do mundo o pessoal vai me acusar de pirataria ?
-             - Olha lá ... um apoiador pirata ... pau nele !
O pessoal da Policia Federal vai bater na minha porta de madrugada e aprender tudo: computador, celular, figurinhas da copa ...
Já imagino a imprensa na porta ....
-           - Como é que o senhor explica as fotos do Cristiano Ronaldo de sunga ?
        - E as caxirolas ? ... O Carlinhos Brown fazia parte do esquema ?
Mico padrão Fifa.

Vai ter que ter copa.
Futebol não é esporte, é paixão.
É por isso que teve tanta discussão para decidir o nome do mascote da copa.
Precisava remeter ao que o Brasil tem de melhor ..  que tem que ser preservado para não correr o risco de extinção.  O futebol e a floresta amazônica! Futebol e ecologia ... Fuleco. 
Tinha que ser um nome bacana ... não podia ser um nome fuleiro ou merreco.
Padrão Fifa.
E a escolha do tatu-bola, então ... perfeita.  Eu nunca vi nenhum mas dizem que é um bicho típico do Brasil.
O charme do bicho é que quando ameaçado ele se enrola todo e se transforma numa bola.
Mas tem a questão dos hábitos sexuais do Tatu-bola também.   Isso pode ter contribuído para a escolha.
O pênis ereto de um tatu-bola macho chega a ter o tamanho equivalente à metade do seu corpo ... uns 30 centímetros.  Nada mal ... padrão Fifa.
Os machos brigam pela tatu-bola fêmea, mas mesmo roubando a bola do adversário, só conseguem realizar a penetração quando a fêmea colabora e fica ali quietinha, não se mexe.  Ou seja, parece que a expectativa é fazer gol de bola parada.

Vai ter que ter copa.
O pessoal já está preparado para receber os turistas.
Os hotéis, os vendedores de coco gelado, as garotas de programa ...
O ministro falou que a copa estimula a economia e valoriza a moeda.
Estimula mesmo ... tem gente economizando desde o ano passado para comprar um ingresso.
E vão ter que economizar até para comprar um pãozinho na padaria.  As tabelas de preço já estão sendo reajustadas para receber melhor os turistas.
Preços padrão Fifa.
Os cariocas, que adoram botar apelido nas coisas, já criaram um novo nome para a moeda valorizada: o surreal.
Ajustar a tabela de preços para o Surreal é fácil.  É só usar a taxa de conversão do Euro. Pega o preço em real, multiplica por 3 e arredonda. 
O coco era 6 reais, vezes 3 dá 18 e arredondando fica 20 surreais que, na prática, são 6 euros, entendeu ? Não mudou nada.  Virou vinte para continuar 6 no padrão Fifa.

O governo está reclamando do aumento dos preços.
Mas a verdade é que o pessoal do governo fica arrumando a mesa da copa e se esquece de cuidar da cozinha.
Muita gente reclamou que o dinheiro gasto nos estádios daria para construir um monte de hospitais.
Mas hospitais são para gente doente e esporte é saúde.
Até o nosso presidente sem mandato disse que deixar de fazer a copa para construir hospitais seria um retrocesso.
Isso dava até mote de campanha política. 
"Mais estádios, menos hospitais, por um Brasil show de bola."
E quem reclamar leva uma “bifa”, porque agora é padrão Fifa.

Vai ter que ter copa
Apesar das maracutaias ...
O TCU, tribunal de contas, já identificou 600 milhões em irregularidades. Parece muito, mas a gente precisa ver isso aí porque ainda está abaixo do padrão Fifa.
É por isso que o pessoal protestou na porta dos estádios durante a Copa das Confederações.
Os protestos repercutiram em todo o mundo.
O jornal alemão Zeit agradeceu os brasileiros por incentivarem a reflexão sobre a organização e o impacto social dos eventos esportivos.  É o único pais de otimistas no meio dessa crise mundial.
A CNN alertou os americanos sobre os riscos de vir para a copa no Brasil.  Os caras viram gente levando vinagre nas manifestações e estão pensando que é arma química. Chemical Wepon.  Surpreendente que ainda não tenham atacado as fabricas de Vinagre.  É que o serviço de informação disse que o estoque de vinagre está escondido num castelo e eles ainda estão tentando localizar.
O jornal espanhol Mundo Deportivo disse que o Brasil é um caos a espera da copa do Mundo.  E olha que as empresas espanholas são especialista nisso.  Em caos.
O Daily Mirror inglês interpretou as declarações do ministros dos esportes, Aldo Rebelo, e disse que os ingleses podem ser esfaqueados e estuprados se vierem ao Brasil.  Parece que o tradutor foi aquele mesmo africano que participou do discurso do Obana no enterro do Mandela.
E o jornal 24 Sata da Croácia comemorou a classificação da seleção do país para a copa estampando uma bunda de mulher brasileira na capa.  Sutil, não ?  Os croatas já sacaram: o verdadeiro perigo  para os jogadores no Brasil é a bunda.
Porque é que vocês acham que os craques brasileiros vão jogar na Europa.
Não é pelo dinheiro ... é pelo foco, pela disciplina, pela dedicação. Lá tem menos distração.  Bunda padrão Fifa só tem aqui.
E o nosso deputado e ex-atacante da seleção, o Romário, resumiu tudo dizendo que a Fifa é corrupta e que ele prefere mulher. 
Comparação interessante essa.
Mas foi uma alfinetada no Ronaldo, que apoia a Fifa e andou saindo com uma travesti, amiga do Romário!  Ninguém segura um atacante ciumento.

Vai ter que ter copa.
Mas a principal razão mesmo para apoiar a copa é que os jogos serão no horário de trabalho.
Sorte de quem tem chefe fanático por futebol.
-       Vamos terminar a reunião de planejamento mais cedo hoje porque tem jogo da Grecia com Costa do Marfim.  Jogão.
Tem empresa que até liberou a cerveja na hora do jogo.
A Fifa não liberou nos estádios ... então ?
Padrão Fifa.

Vai ter que ter copa
Se não tiver, vai ficar um buraco no meio do campo
Pensa bem ...
Tem as férias escolares, aí vem o carnaval, emenda na copa, começa o horário político, vem as eleições, o natal ... tudo encaixadinho.

Vamos ter um ano padrão Fifa !

segunda-feira, novembro 18, 2013

O Sexo dos Anjos - Final

Capítulo  1 - Conjuratio
Capítulo  2 - Tons e Cores
Capítulo  3 - Cherchez la femme
Capítulo  4 - Deuses primordiais
Capítulo  5 - Serpente
Capítulo  6 - O despertar
Capítulo  7 - Ascenção
Capítulo  8 - Amor Eterno
Capitulo  9 - Um anjo se prepara
Capítulo 10 - Anima Mundi
Capítulo 11 - Holus

Capítulo 12 (final) -  O gozo de Gaia


Deuses não copulam como criaturas mortais.
Não existe penetração ou qualquer outro artifício para transferência de material genético de um corpo para o outro por uma razão simples: os deuses não tem corpos.
Embora os mortais possam imaginar os deuses a sua imagem e semelhança, eles são constituídos de energia livre.
Os corpos mortais também são constituídos de energia, colapsada, porém, como matéria.  A matéria é uma das formas possíveis para a energia.  Sua forma mais limitada, na verdade.
Para os deuses não existe essa limitação material.  São limitados apenas por sua consciência individual, seu ego e pelo apego a essa ideia.
Eros era, talvez, o único deus capaz de compreender o conceito em toda a sua extensão, mas isso não o impedia de exercitar o apego à individualidade.  Ao contrário, talvez fosse o mais individualista dos deuses, justamente pela consciência de que essa era a garantia de sua existência.
O único momento em que se permitia abrir a guarda era durante os encontros com Gaia.    
Esse era um momento paradoxal.  O prazer de Eros era inversamente proporcional à sua consciência individualista.  Quanto mais abrisse mão de sua individualidade, quanto mais se permitisse fundir com Gaia, mais prazer sentia, mas menos existia.
Nos instantes de prazer mais intensos, Eros transcendia sua existência.  Não havia mais a distinção entre Eros e Gaia.  Ambos formavam um único ser e suas energias se somavam e reverberavam, síncronas, ressonantes, formando uma só onda colossal.  Passado aquele momento eterno, Eros lembrava-se de haver sido Eros-Gaia.
Ao mesmo tempo em que essa lembrança o amedrontava, pela perda momentânea da individualidade, também o estimulava, porque ser Eros-Gaia era muito mais do que ser apenas Eros.
Gaia, é claro, tinha as mesmas sensações e menos restrições a essa fusão.  Por ela, poderia permanecer sendo Eros-Gaia por toda a eternidade.  A memória desses instantes preenchia o intervalo entre seus encontros fugidios, uma ou duas vezes em cada século.
Dizer que Eros se lembrava dos encontros não é correto.  Como Eros é temporalmente onipresente, todos os encontros com Gaia estão acontecendo, para ele, simultaneamente.
Impossível para os mortais, e mesmo para outros deuses, conceber essa ideia, a não ser no momento do orgasmo, quando tanto para os deuses como para os mortais, o tempo deixa de existir.
E foi neste particular encontro entre Eros e Gaia, quando Eros tinha sua atenção contaminada por seus planos e pelo recente encontro com Gabriel, que Gaia teve seu momento de epifania. 
No ápice de seu gozo, transcendeu a familiar sensação de ser Eros-Gaia para ser, por um breve e eterno instante, absolutamente tudo.
Khaos, Tártarus, Eros, Gabriel e tudo que existiu e existiria um dia, todas as manifestações da energia universal pareciam fazer parte dela.  Ou ela parecia fazer parte de tudo.  Não havia distinção.  O Universo passado, presente e futuro, era Gaia, e Gaia era o Universo.
Gaia havia experimentado um orgasmo transcendental e já não era Gaia.  Havia encontrado a verdade final e o sentido fundamental da não existência.
Num último olhar de apaixonada gratidão para Eros, Gaia dissolveu-se em seus braços.
Eros também havia experimentado a mesma sensação, absorvendo Gaia e sendo absorvido pela energia universal.
Mas ele estava alí, naquele momento, e em todos os outros momentos das possíveis linhas da existência.
Naquele preciso instante, Eros observava as diversas possibilidades de futuro e numa delas, ele já não estaria consciente de sua individualidade, dissolvido no universo como Gaia.  Neste caso, ele não teria como conhecer um futuro onde não estaria presente.
E foi então que Eros concebeu o plano que o levou até ali, não sem divertir-se com a curiosa circularidade dos acontecimentos.  Ele estava elaborando um plano que terminaria no exato instante em que começou.
Precisaria acessar os registros Acásicos de Gabriel para saber como seria o futuro caso decidisse permanecer naquele momento presente e deixar de existir.
Desviou sua atenção para o momento em que acessaria os registros, depois para sua conversa com Gabriel e, por último, para o encontro secreto com Maria Celeste, a companheira de Gabriel.
Não foi fácil convence-la a experimentar o prazer da fusão transcendental.  Celeste estava habituada as regras monogâmicas do Céu e Eros precisou utilizar todos os recursos de sedução para faze-la entender que ao final de seu plano, todos estariam de volta à energia universal, ou voltando ao encontro de Deus, na linguagem da primeira-anja.
Mas foi a menção ao gozo de Gaia que, finalmente, convenceu Celeste mergulhar na vivência com Eros.  E experimentar o maior orgasmo de sua milenar existência a convenceu de que ela, também, era Deus.  
Abraçados, ainda inebriados pelo aroma dos incensos de Lesbos, combinaram o sonho que Celeste induziria em Gabriel durante seu sono, com Bianca e Sheila.
Eros estava ali com Celeste, no topo do edifício com Gabriel, no templo com Khaos e Tártaros, no oriente inspirando a filosofia Tântrica, com Bianca despertando a Kundalini e com Gaia, deixando de existir.
Toda a energia gerada por todos os seres vivos com os quais Eros havia interagido por toda a eternidade convergiu para ele.
- Está feito ! - respondeu para Maria Celeste em outro ponto do espaço-tempo.
Uma imensa onda, um pulso energético originário de sua decisão final,  propagou-se pelo Universo e dissolveu toda a matéria existente.  
Tudo voltou a ser como no início dos tempos, ao som do último suspiro de Eros.

domingo, março 31, 2013

O Sexo dos Anjos - Capítulo 10


Capítulo  1 - Conjuratio
Capítulo  2 - Tons e Cores
Capítulo  3 - Cherchez la femme
Capítulo  4 - Deuses primordiais
Capítulo  5 - Serpente
Capítulo  6 - O despertar
Capítulo  7 - Ascenção
Capítulo  8 - Amor Eterno
Capitulo  9 - Um anjo se prepara

Capítulo 10 -  Anima Mundi


Eros estava de volta à sala do templo primordial de onde, ipso facto, nunca havia saído.  Digamos que sua atenção estava depositada naquele local.
Se não é fácil compreender a atemporalidade, mais difícil ainda é conviver com ela.
Os humanos utilizam a linearidade do tempo para se acostumar com as situações. 
Para Eros, temporalmente onipresente, não existe o “passar do tempo”.  Tudo acontece simultaneamente, da origem do Universo até o seu final.
Sua atenção é o que define o “momento presente”. 
Boa parte da “má fama” de Eros em todas as épocas se devia ao fato de utilizar a energia sexual para capturar sua atenção e fixa-la num momento de seu interesse.  Fixar a atenção sem uma âncora externa é um exercício que exige disciplina.  E entre a disciplina e o prazer, Eros preferia o segundo.
A conversa com Gabriel acontecia ao mesmo tempo em que Eros vivia seus desdobramentos no tempo linear e também todos os eventos anteriores a esse momento.
E o mais intrigante é que cada ação em cada instante do tempo linear, modifica a realidade do instante seguinte, de forma que Eros “existia” simultaneamente em cenários permanentemente mutantes.
Em situações normais Eros simplesmente ignorava essa particularidade de sua existência.  Apenas vivia e deixava viver.
Mas considerando que sua própria existência estava ameaçada, Eros precisava agir de forma planejada. 
Organizar os acontecimentos no tempo linear de forma a inspirar Gabriel a construir os registros “acásicos” para poder acessá-los foi, sem dúvida, um golpe de mestre.  Com isso, Eros podia avaliar mais facilmente as possíveis “realidades” que se colapsariam em decorrência de suas ações.
Ele não era capaz de ler os pensamentos de Gabriel, mas conhecia os possíveis “futuros” decorrentes de sua concordância com os planos do anjo. 
Vislumbrava Gabriel, livre de suas obrigações como CEO do seu céu, visitando Sheila e Bianca  acompanhado de Celeste, promovendo orgias sensoriais. 
Observava a relutância de Celeste, doutrinada pelos padrões celestiais de conduta e pouco acostumada à nova versão libertina de seu companheiro de asas.
Bianca fundaria uma nova seita fundamentada no prazer e Gabriel faria aparições pirotécnicas durante as festividades orgásticas, embaladas pelo consumo contínuo de uma infusão de “salvia divinorum”. 
Sheila, sentindo-se abandonada e incapaz de aceitar a universalidade do amor de Bianca, morreria de overdose.
Os fundamentalistas evangélicos iniciariam uma guerra santa contra os “novos hedonistas” da seita de Bianca.
A igreja católica, cujo “número um” eleito de acordo com os planos de Gabriel passaria a defender o sincretismo religioso como forma de sobrevivência, se omitiria da disputa, acolhendo os fiéis decepcionados de ambos os lados.
O céu de Gabriel, sem sua liderança e enfraquecido pela liberalidade religiosa de seus “fiéis” desmoronaria e seria loteado pelos fundamentalistas, mas o anjo já  estaria acomodado em um agradável recanto intermediário reservado aos deuses das seitas menores, uma espécie de “roteiro do charme” do espaço divinal.
Ou seja, Gabriel conquistaria o que desejava.  Deixaria a desgastante posição de CEO de uma grande corporação celestial para ser dono de seu próprio pedaço de céu, sem ter que se submeter às aborrecidas políticas e zelar pelo cumprimento de normas coercitivas de conduta.  Sua religião teria apenas um mandamento: o prazer.
Mais difícil para Eros era avaliar se seu próprio objetivo seria atingido: revitalizar a “anima mundi”, a alma do mundo.
Em sua condição de existência eterna e atemporal,  Eros havia reconhecido que todo o Universo era animado por uma única força vital.
Alguns humanos, dedicados a pensar sobre a existência em diversas épocas, já haviam chegado a essa mesma conclusão por meio da razão.  Hindus, taoistas e estóicos, com abordagens distintas, professaram essa verdade.
Mas Eros era capaz de sentir essa força e sabia que sua existência era decorrente da reverberação dela pelos seres vivos.
Sabia que a realidade da qual sua existência fazia parte era construída pelos viventes, prioritariamente os humanos, que se apropriavam da anima mundi para construção da realidade de acordo com suas estruturas mentais.
Precisava focalizar sua atenção nessa energia e sentir sua oscilação.
E isso exigiria um colossal esforço de disciplinada concentração ou, pensou sorrindo, de Gaia.
- Nada me deixa mais presente do que fecundar a Terra .... – disse para si mesmo enquanto saltava no tempo para os braços da deusa.

sábado, janeiro 26, 2013

O Sexo dos Anjos - Capítulo 8



Capítulo  1 - Conjuratio
Capítulo  2 - Tons e Cores
Capítulo  3 - Cherchez la femme
Capítulo  4 - Deuses primordiais
Capítulo  5 - Serpente
Capítulo  6 - O despertar
Capítulo  7 - Ascenção


Capítulo 8 -  Amor eterno



A relação entre os Deuses Primordiais nunca foi cordial e pacífica.
Embora as vezes possa parecer, essa não é uma questão relacionada com disputas de poder ou grandes paixões.
A verdade é que até mesmo os Deuses percebem o Universo através de experiências sensoriais interpretadas de acordo com suas estruturas mentais
pré-existentes. 
Não poderia ser diferente, já que são criações humanas e refletem a sua natureza, ainda que de forma idealizada.
Na medida em que diferem em sua percepção do Universo, é fácil concluir a possibilidade de discordarem sobre a forma de interagir com ele é grande.
Esse é o verdadeiro fundamento da discórdia nos diversos panteões em todas as eras.
Khaos é fruto das paixões arrebatadoras.  Pura energia, intensa e desordenada, avassaladora e atemporal.  Khaos é a força que constrói e destrói sem razão.
Dessa energia surge Gaia, a beleza criativa que representa toda a vida em seu momento presente.
Mas também emerge o destrutivo Tártarus, que representa o assustador final da existência.
Khaos, Gaia e Tártarus nunca se deram conta da essência diferente de Eros.
Enquanto os três primeiros explicam a origem e os fundamentos do mundo, Eros é quem oferece um sentido para a existência.
Eros, de fato, é o único deus eterno. 
Gaia e Tártarus estão conectados ao momento presente.   Khaos é incapaz de perceber o tempo.
A natureza essencial de Eros oferece o privilégio de esparramar-se pelo tempo.
Os outros deuses, e certamente os humanos, não são capazes de compreender claramente esse conceito.
Eros foi criado a partir do amor, a única emoção capaz de sugerir aos humanos a sensação de eternidade.
Essa característica é a grande vantagem competitiva de Eros em relação aos outros primordiais e mesmo aos que vieram depois.  Eros está sempre presente, em todas as eras. 
A intensidade de sua presença eterna depende apenas do amor gerado num determinado instante e, por isso mesmo, Eros buscava uma forma indireta de interferir na era Cristã, onde o amor havia sido substituído pelo seu antagonista, o temor.
E essa não era sua primeira tentativa.  Eros já havia perdido a conta de quantas intervenções havia feito sem sucesso. 
O fato de nenhum outro deus ter consciência disso o divertia.  A história se reescrevia a cada investida de Eros e as alternativas só poderiam ser percebidas por quem tivesse acesso aos registros Acásicos. 
Mas, desta vez, o plano de Eros demandava ajuda, ainda que involuntária, para ser executado.
Como, nessa era, apenas a equipe do CEO (também chamada de turma do Céu) podia consultar os registros, Eros havia tomado providências para garantir que os registros fossem consultados, invadindo o sistema e enviando uma mensagem absurda para Gabriel.
Eros decidira usar a vantagem de ser cronologicamente onipresente de forma mais inteligente... e estava funcionando desta vez.

                             ----------------------- ∞ --------------------

Bianca e Sheila permaneciam abraçadas sobre a cama, num estado de amorosa letargia.
Sheila foi a primeira a sentir a presença e abrir os olhos.
-          -  Meu Deus ... – gritou assustada.
-           -  Quem é você ??? – arrematou Bianca, colocando-se á frente de Sheila e protegendo-a instintivamente.
A figura etérea que pairava diante delas limitou-se a sorrir.